Reconstrução Mamária Tardia ou Imediata?


A reconstrução mamária, como componente do tratamento do câncer de mama, visa não somente reconstituir a mama perdida mas também a melhora da qualidade de vida. A auto-estima é necessária para uma recuperação mais tranquila diante de um diagnóstico que deve ser encarado com seriedade. Lembramos que o tratamento do câncer de mama envolve uma equipe multi-disciplinar e profissionais da área da Psicologia e Fisioterapia serão necessários no tratamento. Componentes como ansiedade e depressão interferem na evolução pós-operatória. A avaliação psicológica das pacientes deve ser realizada tanto na etapa pré-cirúrgica como no acompanhamento pós-cirúrgico.

Algumas ressecções do tumor podem envolver a retirada de apenas uma parte menor da mama e a reconstrução pode não ser necessária. Assim, desde a consulta com o mastologista as pacientes já podem discutir e receber informações sobre o tratamento e reconstrução adequados para seu caso. Havendo indicação para a reconstrução, é importante discutir em uma consulta com o cirurgião plástico, qual técnica está mais indicada para seu caso, quantos tempos cirúrgicos serão necessários, os possíveis resultados estéticos e também as possíveis complicações que podem ocorrer em cada caso. Contra-indicações à reconstrução mamária incluem a decisão da paciente de não reconstruir e ainda alguma enfermidade grave que implique em riscos anestésicos e cirúrgicos maiores e ainda transtornos psicológicos que interfiram na percepção da realidade e no exercício de livre escolha e tomada de decisões.

A reconstrução imediata é realizada no mesmo momento da intervenção cirúrgica oncológica e a tardia é realizada posteriomente. A radioterapia e a quimioterapia podem ser necessárias como complementação ao tratamento cirúrgico e influenciarão diretamente na decisão com relação à reconstrução. Caso a reconstrução não seja imediata, e a paciente necessitar se submeter a tratamento quimioterápico complementar, aconselha-se esperar cerca de 6 meses após o término da quimioterapia para realizar a reconstrução. Se a paciente tiver que se submeter ao tratamento radioterápico complementar, aconselha-se esperar cerca de 1 ano após o término deste tratamento para realizar a reconstrução mamária tardia. A radioterapia compromete muito a qualidade da pele na região tratada e é importante ter em mente que isto aumenta as chances de complicações importantes.

Reconstruções podem ser realizadas com tecidos da própria paciente ou através de técnicas que utilizam expansores ou próteses. A combinação destas técnicas também pode ser indicada. O uso de próteses na reconstrução e dos enxertos de gordura tem sido uma tendência atual. Mas algumas pacientes se recusam ao uso de implantes por se sentirem obrigadas a uma possível cirurgia futura caso seja necessária sua substituição.
Em outros casos as reconstruções podem envolver o uso retalhos musculares. Deve-se lembrar que haverá cicatrizes na área doadora do retalho, além das cicatrizes na própria mama. E lembrar ainda que mesmo com o uso de retalhos, o tamanho conseguido para a mama pode ser insuficiente, o que pode exigir a colocação de um implante abaixo do retalho para completar este volume. Além disto, uma eventual limitação funcional pode ser esperada já que estamos desviando um músculo de sua função. Pacientes que praticam esportes como golfe, tênis, esqui devem relatar ao cirurgião para que entendam qual limitação passarão a ter após a cirurgia.

Por último e mais importante, faço 2 considerações:
– as reconstruções são sempre cirurgias mais delicadas e as complicações são relativamente frequentes, já que ocorre uma interrupção da drenagem linfática da mama. Isto deve estar claro para que a paciente não desacredite em seu cirurgião ou na reconstrução em si.

– poderão ser necessários vários tempos para que se chegue a um resultado esteticamente mais aceitável. Não há como prever o resultado final até porque este depende não só da cirurgia necessária para o tratamento do tumor mas também da avaliação pessoal da paciente (grau de satisfação) sobre as mamas reconstruídas e à sua nova imagem corporal. Importante entender que a reconstrução nunca poderá proporcionar mamas iguais às perdidas mas as técnicas e próteses atuais auxiliam na obtenção de resultados mais naturais e permitem boa qualidade de vida.

Autoria: Dra. Bárbara Helena Barcaro
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia.
Membro Efetivo da AExPi – Associação dos Ex-Alunos do Professor Pitanguy
Chefe da Equipe Médica da Clínica Ivo Pitanguy.
1ª Assistente do Professor Ivo Pitanguy.
Professora Assistente do Curso de Pós-Graduação Médica em Cirurgia Plástica pela PUC-RJ e Instituto de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas.
Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia – Regional Rio de Janeiro.
Ex-Diretora Administrativa do Instituto Ivo Pitanguy.
Membro da Comissão Social da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica – Regional Rio de Janeiro.