Quando a aceitação do diagnóstico do câncer de mama se torna doente

Por Dra. Glauce Cerqueira Corrêa da Silva

Quando as mulheres recebem o diagnóstico de câncer de mama, passam por vários  níveis de estresse e angústia emocional. Dentre eles, o medo da morte, da interrupção de planos futuros, das mutilações, das mudanças sociais e do estilo de vida. Ocorrem ainda, preocupações financeiras e legais e mudanças psíquicas que se tornam infinitamente mais importantes neste momento. Porém, nem todas as mulheres com diagnóstico de câncer de mama sofrem uma depressão grave.

A tristeza é uma reação normal às crises enfrentadas ao saber do diagnóstico de câncer de mama. Todas as pacientes sofrem em algum momento. Deve-se diferenciar tristeza de depressão. Uma das partes mais importantes no cuidado da paciente com câncer de mama é saber reconhecer quando elas necessitam de um acompanhamento e tratamento para a depressão. Algumas mulheres demoram mais para aceitar o diagnóstico de câncer de mama e a depressão, que não é simplesmente estar triste ou desanimado, acaba por acometer parte dessas mulheres. Mas, deve ficar claro que, basicamente, todas as pacientes com câncer de mama sentem tristeza durante alguma fase de sua doença, seja no diagnóstico, durante o tratamento e/ou depois dele.

Inicialmente, quando se comunica a paciente que ela tem câncer de mama, a primeira reação emocional é de descrença, rejeição, negação ou isolamento.

A negação ou isolamento são mecanismos de defesas temporários do Ego contra a dor psíquica diante da morte. A intensidade e duração desses mecanismos de defesa dependem de como a própria pessoa que sofre e as outras pessoas ao seu redor são capazes de lidar com essa dor. Em geral, a negação e o isolamento não persistem por muito tempo e podem diminuir conforme a mulher vai se acostumando com o diagnóstico.

Na impossibilidade de manter o primeiro estágio de negação, ele é substituído por sentimentos de raiva, revolta e de ressentimento. Nessa fase, todo o ambiente é atingindo pela revolta da paciente que sofre a dor psíquica, pela necessidade de enfrentamento da doença, surgem atitudes agressivas.

Outro estágio vem logo em seguida e chama-se barganha. É uma tentativa de adiamento, a maioria das barganhas é feita em acordo com crenças religiosas e mantida em segredo.

Quando a debilidade física já é evidente, ou, quando não se pode mais negar a condição, quando já expressou sua raiva e revolta, quando a paciente percebe que não resolve fazer barganhas, surge então um sentimento de grande perda. É o sofrimento psíquico de quem percebe a realidade como ela é com todas as perdas e dificuldades inerentes a doença. Essa fase é chamada de depressão.

O próximo e último estágio é chamado de aceitação. Alcançar o estágio de aceitação em paz e com dignidade significa que o processo terapêutico do tratamento pode ser realizado em clima de compreensão e colaboração entre a paciente e os que cuidam dela. A paciente já não se debate em desespero, não nega sua realidade, não negocia dentro da sua crença religiosa, não sente raiva nem depressão.

Um dos sinais importantes de que a mulher tem melhor aceitação de sua doença é a sua capacidade para continuar participando das atividades diárias e continuar cumprindo com seu papel social, de cônjuge, mulher, mãe, funcionária, etc., incorporando o tratamento em seu esquema de vida cotidiano.

As mulheres que demoram muito em aceitar o diagnóstico e que perdem o interesse em suas atividades diárias podem sofrer de depressão e, mesmo sendo leve essa depressão, causa grande incômodo.