Câncer de mama e Fertilidade: A oncofertilidade em foco

Foto Dr. Henrique SalvadorO câncer de mama é um assunto que está sempre em evidência. Mas não é atoa que este tipo de câncer é um dos mais comentados e estudados no mundo. Para se ter uma idéia, com excessão dos tumores de pele não melanoma, este é o tipo de neoplasia maligna que mais acomete a população feminina em todos os continentes e é também maior o responsável por óbitos decorrentes de câncer entre as mulheres no nosso país. No Brasil a estimativa para o ano de 2014 é de 57.120 novos casos de câncer de mama, com um risco estimado de 56,09 casos a cada 100 mil mulheres.

O diagnóstico de câncer de mama aumenta com a idade. Quanto mais perto dos cinquenta anos, que é a fase da perimenopausa, maiores as taxas de acometimento da mulher. Mas não são apenas as mulheres nessa faixa etária que apresentam a doença. Esta também é a neoplasia mais comum nas mulheres em idade reprodutiva!

O diagnóstico de câncer de mama é sempre recebido com muito pesar, porém nas mulheres mais jovens pode ser devastador. Em todas as mulheres existe esse misto de sentimentos: medo da morte, medo do tratamento, medo de perder os cabelos. Porém nas mulheres jovens, principalmente as com menos de 35 anos, existe uma peculiaridade: a fertilidade. Muitas destas mulheres ainda não tiveram filhos.

Como consequência aos avanços no tratamento, se tem observado uma melhora na taxa de sobrevida destas pacientes e elas partem por buscar também uma melhora na qualidade de vida, que inclui preservar a capacidade de constituir família. Mas como fazer para essas jovens mulheres restituirem sua capacidade de gestar após um tratamento tão complexo? O aconselhamento dessas mulheres sobre a oncofertilidade ainda permanece uma questão difícil de ser definida, não só por ser um assunto delicado, mas também por não haver protocolos específicos a serem seguidos.

A maioria dos tratamentos disponíveis, especialmente relacionados com a quimioterapia e endocrinoterapia, têm efeitos diretos e indiretos sobre os ovários e o eixo hipotálamo-hipofisário, podendo traduzir-se em lesão temporária ou até permanente na fertilidade.

Infelizmente algumas pacientes têm quadros mais agressivos e precisam de intervenção rapidamente. Porém, para aquelas que têm condições clínicas favoráveis e que tem desejo de gestar no futuro, existem diversas opções disponíveis. E ai é que fica mais evidente a importância da multidisciplinaridade da equipe no tratamento do câncer de mama.

Pacientes jovens com câncer de mama que desejam ter filhos no futuro, devem ser encaminhadas a um especialista em fertilidade para receber orientações sobre criopreservação de óvulos e embriões e outras técnicas, de acordo com cada perfil. Mesmo que esta não seja a maior preocupação no momento (e sim ficar curada), a paciente tem a chance de amadurecer a idéia e a possibilidade de decidir se quer gestar ou não depois do seu tratamento completo.

Além do aconselhamento sobre a fertilidade, a consulta com o médico especialista em reprodução humana possibilita que as pacientes pensem em seu futuro no momento em que o diagnóstico da doença é muito doloroso, o que possui um impacto positivo na qualidade de vida dessas mulheres durante o tratamento.

Não podemos afirmar que uma paciente exposta ao tratamento para câncer de mama se tornará infértil. Muitas mulheres voltam a ter sua fertilidade espontâneamente meses ou até anos após o término do tratamento. É possível que uma mulher que congelou seus óvulos nem venha a utilizá-los, podendo engravidar naturalmente ou com tratamentos mais simples. Mas também não podemos prever quais pacientes ficarão permanentemente inférteis, sendo papel do mastologista dar as orientações iniciais e encaminhar a paciente a um centro especializado em fertilidade antes do início do tratamento.

Sobre os autores:

Dr. Henrique Moraes Salvador Silva
Coordenador do Serviço de Mastologia do Hospital Mater Dei-BH
Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia

Dra.Flavia Lapa
Residente(M.E.C) de Mastologia do Hospital Mater Dei-BH